Professora ensina robótica a partir de sucata
30 de março 2016
Por: Débora Garofalo * Fonte: Porvir
O projeto Robótica Livre é um processo novo para os alunos da EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Almirante Ary Parreiras, em São Paulo. Enquanto a gente não tinha o kit de robótica, trabalhar essa temática com sucata foi um primeiro passo, dado no início de 2015.
Como professora de informática, sempre tive curiosidade em realizar esse trabalho na escola. Por isso, propus aos meus estudantes que pesquisássemos juntos sobre o assunto, assistimos a alguns vídeos no YouTube, consultamos livros específicos sobre o tema, e aí eu fiz uma proposta a eles: “Vamos construir um carrinho movido por um balão de ar?”. Para viabilizar a tarefa, pedi que trouxessem tampinhas e garrafas plásticas de casa e trabalhei as formas geométricas, como o cilindro, e a questão da força. Dei apenas o conceito de como o carrinho deveria ficar quando pronto e falei: “Vocês têm esses materiais. Dá pra fazer”. Aí eles quebraram a cabeça até que conseguiram! Isso foi muito legal, porque apesar dos materiais serem iguais para todos, cada carrinho ficou diferente do outro.
O trabalho foi realizado com alunos do primeiro ao nono ano do ensino fundamental. Os novinhos ficaram encantados com a proposta e foram imediatamente pro chão para testar os carrinhos. Eles entenderam toda a didática por trás, mas o mais marcante é que eles puderam brincar com o brinquedo que eles próprios construíram. Já os mais velhos perceberam que nós conseguimos dar uma finalidade pra aquilo que é chamado de lixo.
Os alunos puderam brincar com o brinquedo que eles próprios construíram
Depois dessa etapa, eu lancei o segundo desafio: “agora que vocês já têm o conceito, então criem objetos com sucata que tenham uma funcionalidade de robótica”. Nisso, surgiu a mesa de hóquei movida a secador, a mão mecânica e um circuito eletrônico feito a partir de sucata de computadores.
Durante o projeto, os alunos trouxeram todo o tipo de sucata – tudo o que eles achavam que dava pra construir alguma coisa – para a sala de aula. Nós guardamos esse material num armário. A criatividade e a busca deles pela informação para construir esse tipo de objeto superou totalmente as minhas expectativas e o projeto acabou tomando uma proporção muito maior.
Quando assumi a sala de informática, os alunos só queriam jogar, mas com o passar do tempo, mostrei pra eles que o laboratório tem outras finalidades, e que o computador não é um instrumento final, mas faz parte do processo.
O projeto ajudou a criar autonomia a partir do momento que, usando o caminho que eu passei, os alunos tiveram que criar outros meios para atingir objetivos maiores. Eu só dei o norte pra eles, mas o merecimento de todo o restante é deles, que se tornaram autônomos ao ir atrás da informação, aprenderam a pesquisar, resolver problemas e conflitos que existiram nos grupos.
No ano passado, eles puderam expor esses trabalhos na Bienal do Ibirapuera e, devido a realização do Robótica Livre, nós ganhamos um kit de robótica da Secretaria da Educação e vamos ampliar o projeto.
Apesar disso tudo, a escola pública ainda recebe alguns rótulos. Mas ela é muito criativa. Então quando eu falo sobre a voz da periferia é para mostrar que essas crianças são capazes e que não é o lugar que determina aquilo que podem fazer. Ainda existe muito a ideia de que o “estudante de periferia não faz robótica”. Quando eu vi meus alunos dando voz pra sucata deles, eu traduzi para “a voz da periferia”. Eles ganharam o espaço deles.
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